segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

JACK ELAM – O bandido do olhar atravessado...


por Darci Fonseca

Jack Elam nunca foi capa de revistas de cinema e mesmo assim seu rosto era muito conhecido, um tipo de fisionomia que ninguém esquece, especialmente pela força de suas caracterizações que fizeram dele um ator muito especial e até mesmo famoso.

A data de nascimento de Jack Elam é controversa e há fontes que indicam 1916, 1918 e 1920. Seu nome verdadeiro era William Scott Elam e ele nasceu em Miami num dia 13 de novembro, tendo estudado no Santa Monica Junior College, na Califórnia. De lá saiu formado em Contabilidade, sendo contratado para exercer a função de auditor contábil na produtora de Samuel Goldwyn e depois na produtora de Hopalong Cassidy. Conseguindo fazer amigos no mundo cinematográfico, Elam esporadicamente era convidado para participar de filmes, isto apesar do defeito em um dos olhos. Aos 12 anos o menino William se envolveu numa briga com outro garoto, sendo ferido no olho com um lápis, tendo ficado definitivamente vesgo e por essa razão jamais sonhou em se tornar ator. Porém casado com Jean Louis e com dois filhos para sustentar, Jack se esqueceu do seu olhar vesgo e para aumentar a renda familiar acabou aceitando os convites para ser ator. A primeira vez foi em 1944, num short-western (20 minutos), intitulado “Trailin’ West” em que Elam interpretou um assassino. Outra oportunidade surgiu em 1947 no western B “Mistery Range”, no qual ele já utilizou o nome artístico de Jack Elam. Em 1949 interpretou novamente um bandido no policial “Wild Weed” e a partir daí abandonou de vez a rotina da vida burocrática do escritório, nunca mais deixando de fazer filmes, a maior parte deles faroestes e na primeira parte de sua carreira interpretando foras-da-lei. Magérrimo, arqueado, barba sempre por fazer e o olho esquerdo fortemente desviado, Jack Elam era, convenhamos, uma figura nada bonita e nada simpática num cinema repleto de rostos bonitinhos. Afinal, alguém tinha que ser bandido...

UMA ODE A JACK ELAM 


A década de 60 reservava em seu final uma agradabilíssima surpresa para Jack Elam. Ao longo de 20 anos de carreira ele havia enriquecido muitos faroestes com sua presença, invariavelmente como membro das mais temíveis quadrilhas que o cinema já conseguiu reunir. Com a indefectível deselegância, o esgar cínico e ameaçador e o sinistro olhar estrábico, Jack Elam vinha sendo um dos mais perfeitos contrapontos à pose certinha dos heróis. Não apenas contraponto, mas vítima constante dos mocinhos, para quem os filmes eram concebidos. Os westerns eram muitos, mas os momentos de Jack Elam, como já foi dito, nem tanto, o que não impediu Elam de roubar bancos, gados e principalmente cenas. Como santo de casa não faz milagres, foi necessário que Sergio Leone criasse uma sequência inteiramente dedicada a Jack Elam e isso ocorreu em “Era Uma Vez no Oeste”, o monumental painel do diretor italiano sobre o Oeste norte-americano e que acabou sendo uma justa e bonita homenagem ao ator norte-americano. Durante longos minutos no início do filme o rosto amedrontador de Jack Elam toma conta da tela em close-up. Mas ele não está sozinho pois uma mosca resolve atormentá-lo e Jack captura a mosca dentro do cano de seu revólver numa poética cena, magnífica ode ao ator num dos mais belos westerns de todos os tempos.



2 comentários:

  1. Olá João, mais uma vez parabéns pela arte. Acompanho o Cinemascope e coleciono suas caricaturas. Obrigado por haver dado o crédito no texto do Jack Elam.
    Grande abraço do Darci Fonseca/Cinewesternmania.

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  2. Somenteo um diretor, com especial sensiblidade, soube tirar o máximo de Elan. E tudo isso aconteceu num pequeno intervalo de tempo, onde ele nunca passava e Elan aparecia como o Elan sempre mereceu.
    De um modo geral ele foi um outro Cleef sem desfrutar nunca das oportunidades que o primeiro teve. Mas quando Burt Kennedy lhe aproveitou melhor em Uma Cidade Contra um Xerife, todos pudemos ver um Jack elan acima de otimo e promissor.
    Em Látigo, o Pistoleiro, mais uma vez o sofrivel Burt Kennedy lhe dá novamente uma chance. E Elan roubou completamente o filme de James Garner, num papel acima de hilárico e delicioso de se ver. Ver aquele bandidão que aterrorizou durante anos os mocinhos, surgir numa comédia e eleva-la onde ela jamais iria sem sua participação, torna-se acima de gratificante e merecedor.
    Isso ocorre muito: às vezes, como neste caso, demoram muito de dar uma chance a alguém. E aí correm o risco de dar e...
    jurandir_lima@bol.com.br

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